Nessa quinta-feira, 20, o Sintrajufe/RS realizou uma transmissão ao vivo para tratar da proteção à saúde e à vida dos servidores e das servidoras da categoria. Também esteve em pauta na live o combate amplo à pandemia do novo coronavírus e os caminhos que devem ser seguidos para que se enfrente a situação salvando o máximo de vidas que ainda for possível. Os especialistas que participaram do debate foram incisivos nas críticas às políticas do governo federal e de governos estaduais e municipais frente à pandemia.
As diretoras do Sintrajufe/RS Cris Viana e Arlene Barcellos mediaram a live, que teve como convidados os médicos Ivan França Jr., mestre e doutor em Medicina Preventiva, professor titular no Departamento de Saúde, Ciclos de Vida e Sociedade na FSP/USP, coordenador de diversas equipes brasileiras e internacionais na área da saúde pública e saúde coletiva; e Geraldo Azevedo, integrante da assessoria de saúde do Sintrajufe/RS, especializado em Saúde Pública e Medicina do Trabalho, mestre em Engenharia de Produção com ênfase em Ergonomia e com longa trajetória de atuação junto a sindicatos.
A diretora Cris Viana abriu a transmissão apresentando um relato sobre as ações que o Sintrajufe/RS tem tomado no atual contexto, em especial as conversas com as administrações e a atuação nos conselhos e grupos de trabalho dos tribunais. O sindicato tem defendido a manutenção do trabalho remoto pelo tempo mais ampliado possível e, ao mesmo tempo, a construção, desde já, de medidas de proteção para garantir a saúde de servidores e de servidoras e de seus familiares no momento em que for possível o retorno ao trabalho presencial.
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Distanciamento físico e testagem
O médico Ivan França Jr. destacou que o combate ao vírus é especialmente complicado porque sua capacidade de espalhar-se é muito grande, além de concentrar casos graves e mortes em um dado momento. Ele demonstrou preocupação com a situação do Rio Grande do Sul, onde já há quase 3 mil mortos, mesmo que o vírus só tenha chegado a 1% da população do estado: a situação é complicada e estamos longe do fim , apontou, defendendo que para que haja um pico, é preciso construir a descida, controlando a transmissão do vírus . Ou seja, a pandemia não irá retroceder sem ações dos governantes e da população. A política de imunidade de rebanho , que, conforme Ivan, vem sendo utilizada no país, levará a um desastre, advertiu. Ele explicou que, para que essa imunidade chegasse no Rio Grande do Sul, por exemplo, talvez tivéssemos que multiplicar os atuais 3 mil mortos por 70.
Para Ivan, duas medidas são urgentes para controlar a transmissão: aumentar o distanciamento físico (com todas as medidas adjacentes, como o uso de máscaras) e aplicar uma política de testagem, com foco nas pessoas que são casos confirmados e em seus contatos. Porém, conforme o painelista, a única política que foi adotada em alguns lugares, de distanciamento, foi boicotada pelo governo federal. Assim, fizemos uma política de distanciamento capenga e não fizemos uma política de testagem , criticou, explicando que apenas o SUS tem refreado uma tragédia total no Brasil. Trata-se, assim, de um cenário bastante complexo, muito sensível às decisões que os governos tomarem .
Segurança no Judiciário e trabalho remoto
A diretora Arlene Barcellos falou sobre as medidas de segurança necessárias para que se trabalhe com a possibilidade de retorno aos locais de trabalho. Ela lembrou que, em assembleia geral, realizada no dia 17, a categoria aprovou a resolução Em defesa da vida , apresentada pela direção do sindicato. No texto, aponta-se três perguntas que devem ser tratadas como requisitos para que se pense no retorno ao trabalho presencial: a doença foi controlada no Rio Grande do Sul? O sistema de saúde tem condições de responder se acontecer aumento de casos? O sistema de saúde e vigilância consegue identificar e isolar os casos e os contatos em tempo hábil para evitar o alastramento do contágio?
O médico Geraldo Azevedo comentou essas medidas e destacou que, neste momento, não há segurança para voltar. Conforme Geraldo, o retorno dos tribunais tem sido positivo em relação às preocupações manifestadas pelo sindicato e pela assessoria de saúde da entidade. Uma preocupação ressaltada por ele foi com a falta de ventilação nos locais de trabalho. Assim, explicou, uma das medidas que está sendo sugerida é que, em setores onde não se puder obter ventilação natural, os servidores sejam remanejados. Além disso, o número de servidores deve ser reduzido em qualquer local.
Geraldo também ressaltou que no trabalho remoto nas atuais condições, sem a estrutura e a preparação prévia de um teletrabalho regular , devem ser consideradas as realidades de cada servidor e servidora e os diversos fatores que desequilibram o processo de trabalho, como tarefas domésticas inesperadas, cuidado com crianças e idosos, entre outros. Ele destacou como problema a dificuldade em separar o espaço doméstico do espaço de trabalho: parece não que estamos o tempo todo em casa, mas o tempo todo no tribunal .
Luta coletiva para evitar desastre ainda maior
Os painelistas destacaram que o que há no Brasil, em vez de imunidade coletiva, é uma impunidade coletiva , com muitos governos deixando de lado políticas necessárias para salvar vidas. As experiências internacionais, explicaram, mostram que é possível interromper a transmissão, mas são necessárias políticas efetivas dos governos, o que não tem ocorrido por aqui. A abertura de atividades econômicas, conforme os especialistas, irá piorar o quadro. Assim, tanto os médicos quanto as diretoras do Sintrajufe/RS fizeram coro à avaliação de que é necessária a luta coletiva para forçar os governos a adotarem políticas de combate real à transmissão e de proteção da vida e da saúde dos brasileiros e brasileiras. É o papel que o Sintrajufe/RS continuará cumprindo, o de, como disse Ivan, citando Paulo Freire, imaginar o inédito viável para construir a resistência ao massacre do qual o povo brasileiro está sendo vítima.
Veja AQUI a íntegra do painel.