SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

APOSENTADOS E APOSENTADAS

Conjuntura, informações jurí­dicas e fake news foram alguns dos assuntos tratados no XXV Encontro Estadual do NAF

O XXV Encontro Estadual do NAFNúcleo de Aposentados, Aposentadas e Pensionistas do Sintrajufe/RS foi realizado na tarde dessa quinta-feira, 1º de dezembro, em formato online, pelo terceiro ano consecutivo, devido ao aumento dos casos de Covid-19. A atividade contou com informes sobre ações judiciais, análise de conjuntura e perspectivas para 2023, além de debate sobre fake news e golpes pela internet. Essa foi a última atividade do Núcleo neste ano; a programação será retomada em março e divulgada nos meios de comunicação do sindicato.

Na saudação aos e às colegas presentes, a diretora do Sintrajufe/RS e coordenadora do NAF, Arlene Barcellos, destacou que o NAF é núcleo mais longevo do sindicato, com atividades periódicas. A dirigente lembrou que o Sintrajufe/RS tem enviado caravanas a Brasí­lia, para pressão pela aprovação dos projetos de reposição salarial, sendo que a próxima sai de Porto Alegre na próxima terça-feira, 6.

A colega Iria Edinger, da coordenação do NAF, deu as boas-vindas a todas e todos os presentes e explicou que o NAF vem de um processo de adaptação ao formato virtual, devido à Covid-19, e que a opção foi por mantê-lo em 2022, em razão do aumento do número de casos. Mesmo com as restrições, destacou que “ao longo da pandemia temos nos mantido fiéis e contí­nuos nos nossos encontros”.

Nas saudações aos e às colegas presentes, a diretora Cristina Viana disse que já passamos pelo pior da pandemia , mas precisamos ainda nos cuidar para, juntos, comemorar nossas conquistas. Ela informou que, nos dias 18 e 19 o sindicato participou do Encontro Nacional do Coletivo Jurí­dico da Fenajufe, um momento importante para trocas entre direções e assessorias jurí­dicas nacional e dos sindicatos.

A realização do Encontro do NAF coincidiu com o momento de derrota do governo Bolsonaro, importante para uma retomada de processo de debate de avanços e um melhor diálogo com a classe trabalhadora, afirmou o diretor do Sintrajufe/RS Zé Oliveira. Além de falar das mobilizações contra os vários ataques do governo que está acabando, o diretor informou que há possibilidade de, ainda em 2022, serem votados os projetos de revisão salarial do Judiciário Federal (PL 2441/20222) e do Ministério Público da União (PL 2442/2022) e, por isso, o sindiacato tem enviado caravanas a Brasí­lia.

Informações sobre ações judiciais

Os advogados Felipe Dresch Néri da Silveira e Carlos Guedes, do escritório Silveira, Martins, Hübner, que presta assessoria ao Sintrajufe/RS, foram convidados pelo NAF para dar informes de questões que estão preocupando aposentados e aposentadas. Estamos muito melhores que no ano passado, pelo menos em termos de perspectivas , disse Silveira; Carlos Guedes afirmou que era bom ver presentes pessoas que contribuí­ram tanto pelo fortalecimento do Sintrajufe ao longo dos anos .

Silveira explicou que o Tribunal de Contas da União (TCU) assumiu uma posição de enfrentamento, como ocorre com os quintos incorporados. Em relação à acumulação da VPNI dos quintos e da GAE pelos oficiais de justiça, o tribunal está, inclusive, discutindo se os Ojafs poderiam ter feito a incorporação, pois, para o TCU, a FC5 não tinha uma função de natureza gratificada. O advogado avalia que, depois da modulação dos quintos feita pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o TCU está buscando eliminar tudo o que orbita a questão dos quintos , tentando limitar os efeitos da modulação e gerando insegurança.

O Sintrajufe/RS apresentou uma série de pedidos de reexame buscando mudar as decisões sobre as aposentadorias. O entendimento é que, se há decisão administrativa e judicial, não existe ilegalidade. Com o ajuizamento de ação civil pública, o sindicato quer fazer uma discussão do entendimento do TCU e garantir o reconhecimento da legalidade ampla de todos os atos de aposentadoria .

Quase três anos depois da reforma da Previdência, foram colocadas em julgamento, no STF, oito ações diretas de inconstitucionalidade (ADIs), que têm como relator o ministro Luis Roberto Barroso. As ADIs tratam de vários aspectos, sendo os mais relevantes o aumento da base de cálculo das contribuições (de 11% para 14%) e a instituição de alí­quotas progressivas. Carlos Guedes explicou que, até o momento, foram apresentados dois votos, o do relator e o do ministro Edson Fachin, mas o julgamento foi suspenso, sem previsão de retomada, a partir de pedido de vistas do ministro Ricardo Lewandowski. Carlos Guedes avalia que o resultado dos votos apresentados até o momento foram melhor do que se imaginava . Barroso julgou inconstitucional o aumento da base de cálculo e constitucionais as alí­quotas progressivas, desde que estas, comprovadamente, garantam a eliminação do défict previdenciário. Fachin considerou ambas as propostas inconstitucionais.

Sobre a extinção do chamado duplo teto, outra mudança trazida pela reforma, Fachin votou pela inconstitucionalidade da norma e Barroso, pela constitucionalidade. Sobre esse ponto, o STF deve proclamar o resultado, com os votos dos demais ministros e ministras, nesta sexta-feira, 2.

Outra ação do Sintrajufe/RS é a que busca o reconhecimento de que a GAJ tem a mesma natureza do vencimento básico. Com isso, todas as vantagens deveriam ser calculadas também sobre a gratificação. Carlos Guedes explicou que o sucesso da ação está relacionado a movimentos parecidos que ocorrem em outras categorias. Por exemplo, por decisão monocrática do Superior Tribunal de Justiça (STJ), foi reconhecido que a GAT da Receita Federal tinha a mesma natureza do vencimento básico. O advogado informou que a assessoria jurí­dica está confiante e preparada e acompanhando o desenrolar da discussão em todos os estados.

Conjuntura

Conjuntura atual e perspectivas para 2023 foi o tema do painel da economista e técnica do Dieese Lúcia Garcia. Ela defendeu que o Brasil passa por uma grande transição, com mudança mais estruturais e mais amplas, que trazem desafios para toda a sociedade. Especificamente para o público do Encontro do NAF, a economista pontuou que uma parte da sociedade brasileira conseguiu se aposentar muito jovem, mas a perspectiva de seus filhos e netos não é essa, o que pode significar uma grande transformação.

Em uma análise mais ampla, a painelista afirmou que, aproximadamente a cada 100 anos, o capitalismo se revoluciona. Na fase atual, que vem sendo forjada há pelo menos 50 anos, o capitalismo tem com base em três pilares: financeirização, neoliberalismo e tecnologia digital.

A financeirização é a nova forma da propriedade capitalista, pulveriza a propriedade, muda a face do capitalismo. O neoliberalismo trouxe uma mudança importante no Estado, que mudou de lado , deixou de ser distributivo, social-democrata, para tornar-se muito mais favorável aos fluxos de capital e à reordenação econômica. Com isso, polí­ticas protetivas se esvaem, e se veem como problema até mesmo a longevidade (ocasionando mudanças nos programas de seguridade e aposentadoria).

Com as reformas institucionais e readequações realizadas, o Brasil está estagnado economicamente, afirmou Garcia. O PIB per capita do paí­s, em 2021, foi o mesmo de 2012 e 2013, ou seja, o paí­s ficou mais pobre. Mesmo que haja redução do desemprego, a renda não cresce. Muitas vezes as pessoas têm mais de um emprego para poder se manter. O salário médio no Brasil, na iniciativa privada, é de R$ 2.384, baixando para R$ 1.045 no emprego doméstico, ou seja, abaixo do salário mí­nimo. No setor público, a média fica em R$ 4.414. Há uma grande massa fora do mercado formal, fora da organização em sindicatos ou coletivos. Ante a atual visão de meritocracia, se essas pessoas não têm emprego, não alcançaram o sucesso , é porque não se esforçaram .

Os salários estão estagnados e a inflação sobe. De setembro de 2021 a setembro de 2022, chegou a 7,9%, í­ndice mascarado pela manipulação de preços no perí­odo eleitoral. A economista destacou que o endividamento familiar no Brasil chega a 53,1% no setor financeiro; se forem consideradas dí­vidas com lojas e outras, o percentual sobre para 79,2%, com inadimplência na casa dos 30,3%. Com esse quadro, a pobreza avança; são 125 milhões de brasileiros e brasileiras em insegurança alimentar e mais de 30 milhões com fome.

Sobre as eleições, Garcia disse que ganhamos a batalha com aliados do centro/liberal, mas a guerra é mais longa . Segundo ela, o governo não será do PT ou da esquerda, mas será de transição, reorganização e de composição. Os avanços polí­tico-sociais terão de vir a partir de demandas e pressões da sociedade, muito mais que do governo e do Estado. Por isso, avaliou, é importante conhecer, pensar sobre nosso papel e sobre como podemos atuar na sociedade.

Depois da apresentação, foi aberto espaço para perguntas e avaliações de colegas, que trouxeram várias contribuições para o debate.

Fake news e golpes na internet

Na última mesa do Encontro, o tema foi Fake news e golpes na internetcomo identificar e se proteger , com os palestrantes Edson Borowski, diretor do Sintrajufe/RS e da Fenajufe, autor do livro As fake news e o discurso de ódio nas eleições de 2018 ; e o advogado Márcio Medeiros Félix. Edson explicou que as transformações tecnológicas geraram um novo marco de comunicação da humanidade, com mutações nos processos de inteligência coletiva e na linguagem. As mudanças de paradigmas comunicacionais também confluí­ram em mudanças de paradigma comportamental: Estamos dentro de uma revolução tecnológica , explicou, apontando que, por estarmos dentro desse processo, às vezes é difí­cil percebê-lo como tal. Nesse contexto, as notí­cias falsas (fake news) se espalham com mais facilidade, graças a elementos como a sobrecarga de informações e o viés confirmativo , ou seja, a tendência de que se acredite em notí­cias que confirmam o que a pessoa já pensa sobre o mundosejam verdadeiras ou falsas. É também nesse contexto que ficam facilitados golpes que utilizam o meio digital, tema que seria desenvolvido na sequência pelo segundo painelista.

Márcio Medeiros Félix falou sobre alguns tipos de golpes que vêm sendo aplicados com o uso de tecnologias digitais e sugeriu formas de prevenir-se contra eles. Em alguns golpes, explicou, os golpistas entram nas redes sociais das pessoas e as deixam sem acesso, às vezes por muito tempo, utilizando o espaço para o envio de mensagens para parentes e amigos pedindo dinheiro. Em outros casos, criam novos perfis com o mesmo objetivo. Há ainda um tipo de golpe em que falsos sites de vendas são divulgados para que a pessoa faça uma compra de um produto que nunca será entregue, sendo que esses sites podem ser mascarados como pertencendo a grandes lojas. Há, enfim, uma infinidade de formas de golpes. Para preveni-los, não há uma ação especí­fica, mas uma série de cuidados que devem ser tomados, como não clicar em links de origem desconhecida, não realizar transferências bancárias a partir de pedidos por escrito (sempre ligar para a pessoa caso ela peça dinheiro via WhatsApp, por exemplo) e revisar os dados de boletos enviados pela internet.

Ao final do painel, colegas falaram de casos em que foram ví­timas de golpes ou de tentativas de golpes. Por fim, uma colega relatou um golpe do qual foi ví­tima há poucos meses, com sérias consequências financeiras e emocionais.

Coordenação do NAF

Por acordo entre os e as participantes do XXV Encontro, será mantida a mesma coordenação do NAF até março do próximo ano. As coordenadoras são Arlene Barcellos e Iria Edinger e, na suplência, Ari Heck e Maria Margarida Gomes de Melo. Na retomada das atividades do Núcleo, será chamada uma reunião com a inclusão desse item na pauta.

O NAF encaminhará ao e às presentes, via e-mail, a cartilha com informações sobre o andamento das ações judiciais e, também, links e power points apresentados e indicados pelos painelistas e pela painelista.