SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

DESTAQUE

O que você tem a ver com a luta dos petroleiros contra a venda da Petrobras?

Em greve desde o dia 1º, os petroleiros de todo o paí­s estão lutando contra o fechamento da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen), em Araucária, no Paraná, a demissão de mil trabalhadores da unidade e o processo de privatização da Petrobras, que prejudica o Brasil e todos os brasileiros e as brasileiras.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatí­stica (IBGE), o paí­s fechou 2019 com 12,6 milhões de trabalhadores e trabalhadoras desempregados. A luta contra demissões, portanto, é uma das mais importantes causas da mobilização. O fechamento da Fafen-PR prejudica petroleiros e toda a cadeia produtiva, além do comércio e da comunidade do entorno.

Muitos se perguntam: o que eu tenho a ver com isso?

Você e todos os brasileiros e as brasileiras têm muito a ver com isso. A privatização da petroleira implica em aumento de preços, em redução da arrecadação dos estados, em mais trabalhadores e trabalhadoras desempregados e em menos investimentos em infraestrutura, menos chances da economia crescer, ou seja, menos geração de emprego e renda.

Você sabe quais são as consequências da privatização da Petrobras?

Se o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) privatizar a petroleira, os preços da gasolina, do diesel e do botijão de gás de cozinha vão aumentar.

– Se as refinarias forem fechadas e o Brasil tiver de importar combustí­veis, cai a quase zero a arrecadação de impostos garantidos pelo setor de petróleo e gás nos estados em que essas unidades estão instaladas. Os municí­pios que são afetados pelas operações de embarque e desembarque de petróleo ou gás natural, também perderão milhões de reais mensais em royalties.

– a venda da petroleira vai aumentar o desemprego porque milhares de petroleiros e de trabalhadores e trabalhadoras de empresas do entorno, como as dos setores de comércio e serviço, vão fechar as portas.

– o paí­s deixará de investir milhões em grandes obras de infraestrutura, que também são responsáveis pela geração de milhares de empregos.

– os empregos serão gerados no Brasil, mas as vagas serão ocupadas por estrangeiros contratados pelas multinacionais que comprarem a Petrobras.

– Além disso, o paí­s ficará à mercê de empresas estrangeiras na questão energética, o que ameaça a soberania nacional.

Você ainda está se perguntando e eu com isso?

Os brasileiros e as brasileiras pagarão uma conta alta pela privatização da Petrobras, afirma Paulo César Ribeiro Lima, consultor de Minas e Energia da FUP (Federação única dos Petroleiros), que fez um estudo baseado nos preços de junho do ano passado, no mercado nacional e internacional.

O estudo mostra que a Petrobras pode entregar seu petróleo nas refinarias a um preço de US$ 48 por barril. Se os compradores das refinarias tiverem que comprar petróleo a US$ 65 por barril, o custo da matéria-prima será 35,4% maior.

– óleo diesel mais caro

A privatização das refinarias da Petrobras não vai permitir a redução do preço do óleo diesel no Brasil porque o custo de produção será mais alto e também porque as decisões sobre os preços não serão tomadas por uma empresa estatal de baixo custo, mas por empresas particulares de alto custo.

Se as refinarias forem privatizadas, o custo de produção pode chegar a 73,1% em relação ao custo da Petrobras. Se forem privatizadas as oito refinarias anunciadas pela Petrobras, com redução de 50% da capacidade de refino, a estatal estará em rota contrária a das maiores empresas petrolí­feras do mundo, com grandes prejuí­zos para a estatal, para o Brasil e para os consumidores , alerta Paulo César.

O parque de refino brasileiro tem apenas 17 refinarias, sendo 13 unidades da Petrobras, que respondem por 98,2% da capacidade total do Paí­s. A capacidade de refino da Petrobras é a mesma da capacidade de produção de petróleo, cerca de 2,22 milhões de barris por dia. Das 13 refinarias da Petrobras, oito foram colocadas à venda por US$ 10 bilhões. Juntas, têm capacidade de refino de cerca de 1,1 milhão de barris de petróleo por dia.

– Gás de cozinha mais caro

O estudo do consultor da FUP também mostra que o preço do gás de cozinha, cobrado pela Petrobras nas refinarias, chamado de realização, foi, em média, de cerca de R$ 26,00 para uma massa de 13 kg. Este valor poderia ser reduzido de R$ 26,00 para R$ 20,00, pois a estatal é uma empresa que tem um custo médio de refino de apenas US$ 2,4 por barril de petróleo.

Com a redução de R$ 6,00 nas refinarias da Petrobras e com uma alteração da margem de distribuição e revenda de R$ 30,92 para R$ 20,92 por botijão de 13 kg, haveria uma redução no ICMS de R$ 11,24 para R$ 8,67. Com essas reduções, o preço do botijão de gás de cozinha de 13 kg passaria de R$ 70,34 para R$ 51,77. Esse seria o preço justo do gás de cozinha, pois remunera adequadamente a Petrobras, os distribuidores e os revendedores.

Se as refinarias forem privatizadas, o custo médio de refino pode aumentar 300%, o que inviabilizaria essa redução. Além disso, provoca a perda de arrecadação de impostos. Em muitos estados, como no Paraná, as refinarias são as maiores fontes de arrecadação individual. A paralisação das atividades dessas unidades vai deixar o estado sem a sua principal fonte de arrecadação.

Já os municí­pios que têm operações de embarque e desembarque de petróleo ou gás natural, produzidos no Brasil, que recebem royalties serão duramente afetados pela privatização da Petrobras. Se os municí­pios do Rio Grande do Sul deixarem de receber royalties da Refinaria Alberto Pasqualini (REFAP), ou gás natural produzido no paí­s, geralmente transportado pela Transportadora Brasileira Gasoduto Bolí­via-Brasil S.A. (TBG), eles deixarão de arrecadar R$ 10,123 milhões/mês – valor de junho de 2019.

– Ameaça à soberania nacional

Embora seja saudável que se procure fontes de energia mais limpas, entregar as descobertas do pré-sal e a tecnologia que somente a Petrobras desenvolveu para extração desse petróleo em águas profundas é preocupante , diz o coordenador-geral da FUP, José Maria Rangel.

A tecnologia para explorar esse petróleo é nossa. A Petrobras descobriu o pré-sal em 2007 e, dois anos depois, já está produzindo mais de um milhão e meio de barris/dia, na área do pré-sal. Isso é fruto da engenharia da tecnologia que nós desenvolvemos , diz.

Rangel conta ainda que o custo de exploração do poço que descobriu o pré-sal foi o maior de exploração de petróleo no Brasil, na ordem de US$ 250 milhões de dólares. Uma empresa privada não faria isso , afirma.

– Capacidade de investimento e geração de emprego

Para o dirigente da FUP, perder engenharia é perder a capacidade de investimento do Estado porque a Petrobras ainda é hoje a empresa que mais investe no paí­s, mesmo tendo reduzido drasticamente seus investimentos. Já chegamos a responder por 13% do PIB do Brasil , diz o dirigente.

A Petrobras que buscava a todo instante os jovens que saí­am das escolas técnicas das universidades hoje não existe mais. Não tem mais concurso público, pelo contrário, a empresa vem gerando diversos planos de demissão incentivada. Isto tem um custo grande também para a sociedade brasileira. A Petrobras gerando menos empregos de qualidade significa menos renda e dinheiro no bolso de todos os trabalhadores e trabalhadoras do paí­s, diz Rangel.

– Programa de privatização do governo

Bolsonaro ainda não oficializou a venda total da Petrobras, principal estatal do paí­s, mas já colocou à venda oito refinarias da estatal e a direção da empresa está empenhada em desmontar a petroleira para facilitar a venda.

Segundo Rangel, a Petrobras está passando por um processo de desmonte desde o governo golpista de Michel Temer (MDB-SP) e que ficou mais forte ainda no governo de Bolsonaro. É um ato criminoso. O presidente da empresa [Castello Branco] afirmou que tem que vender mesmo para outras empresas, como se atividades petrolí­feras não fossem uma atividade estratégica para qualquer paí­s .

Editado por Sintrajufe/RS; fonte: Confederação dos Trabalhadores do Serviço Público Federal