Foi realizado nessa segunda-feira, 1º de julho, o primeiro encontro, online, do Grupo de Leitura Antirracista do Sintrajufe/RS. A atividade debateu o livro “O Avesso da Pele”, de Jeferson Tenório.
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O Grupo é uma iniciativa para promover a educação continuada e a reflexão coletiva sobre a questão racial. Ele contemplará uma das proposições do Encontro de Negros e Negras do Sintrajufe/RS, realizado em outubro de 2023. A ideia é fortalecer a cultura antirracista e oportunizar um espaço de acolhimento e reflexão de forma coletiva. Ao longo de três meses, serão lidos e discutidos três livros que abordem temas relevantes para a luta antirracista. A partir dos textos, os debates buscarão ampliar a conscientização e promover o letramento racial. Em cada encontro, haverá participação de facilitadores, conhecedores da obra, garantindo uma experiência enriquecedora a todos e todas.
Nesse primeiro encontro, a facilitadora foi Ísis Garcia, secretária de Combate ao Racismo da CUT/RS. E o primeiro livro discutido foi o premiado “O Avesso da Pele”, vencedor do Prêmio Jabuti 2021, que conta a história de Pedro, que, após a morte do pai, sai em busca de resgatar o passado da família e refazer os caminhos paternos, trazendo à superfície um país marcado pelo racismo e por um sistema educacional falido, e um denso relato sobre as relações entre pais e filhos. O que está em jogo é a vida de um homem abalado pelas inevitáveis fraturas existenciais da sua condição de negro em um país racista, um processo de dor, de acerto de contas, mas também de redenção, superação e liberdade.
Conforme Ísis Garcia, a iniciativa aponta para a necessidade de construir a formação antirracista dentro do “território sindical”: “É necessário que, nesse espaço onde a classe trabalhadora se organiza e conquista direitos, se compreenda o quanto a população negra foi estrategicamente excluída do processo de dignidade através das barreiras dos critérios de inclusão do trabalho e do racismo estrutural”. Para ela, é o momento de os “territórios sindicais se comprometerem, buscando conhecimento através da leitura de nossos intelectuais pretas e pretos para o rompimento de barreiras para a classe trabalhadora”.
A diretora do Sintrajufe/RS Camila Telles avalia que “o primeiro encontro do Grupo de Leitura Antirracista do Sintrajufe/RS foi mais um marco da luta antirracista na nossa entidade, um desdobramento do 1º Encontro de Negros e Negras do Sintrajufe, ocorrido em outubro de 2023. Depois da calamidade das enchentes no Rio Grande do Sul, que adiou o início do grupo, foi muito gratificante ver que os e as colegas estão novamente se articulando para discutir sobre a enorme ferida que temos no nosso país e, sobretudo, no estado do RS”.
A colega Lourdes Helena de Jesus da Rosa, aposentada do TRF4, participou da atividade e avalia esse primeiro encontro: “Fiquei bem contente com a presença, com as falas. Para mim, foi enriquecedor ouvir os colegas se manifestarem. É muito importante defender o antirracismo também através da literatura. Então para mim foi muito gratificante”, conta.
Próxima encontro debaterá “O Pacto da Branquitude” no dia 5 de agosto
O próximo encontro do Grupo acontece, também online, no dia 5 de agosto. O livro debatido será “O Pacto da Branquitude”, de Cida Bento. Na obra, a autora, eleita em 2015 pela The Economist uma das cinquenta pessoas mais influentes do mundo no campo da diversidade, denuncia e questiona a universalidade da branquitude e suas consequências nocivas para qualquer alteração substantiva na hierarquia das relações sociais.
Diante de dezenas de recusas em processos seletivos, Cida Bento identificou um padrão: por mais qualificada que fosse, ela nunca era a escolhida para as vagas. O mesmo ocorria com seus irmãos, que, como ela, também tinham ensino superior completo. Por outro lado, pessoas brancas com currículos equivalentes ― quando não inferiores ― eram contratadas. Em suas pesquisas de mestrado e doutorado, a autora se dedicou a investigar esse modelo, que se repetia nas mais diversas esferas corporativas, e a desmistificar a falácia do discurso meritocrático. O que encontrou foi um acordo não verbalizado de autopreservação, que atende a interesses de determinados grupos e perpetua o poder de pessoas brancas. A esse fenômeno, Cida Bento deu o nome de “pacto narcísico da branquitude”. Neste livro, a cofundadora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert) reúne sua experiência para apresentar evidências desse acordo tácito e nos convidar a deslocar nosso olhar para aqueles que, a fim de se manter no centro, impelem todos os outros à margem.
Já em setembro, em data ainda a confirmar, o encontro será presencial, na sede do Sintrajufe/RS (Marcílio Dias, 660), e o livro discutido será “Marrom e Amarelo”, de Paulo Scott.