SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

“RISCO EXISTENCIAL”

Pioneiro da inteligência artificial que pediu demissão do Google adverte para riscos de robôs

Conhecido como “padrinho” da inteligência artificial (IA) e um dos pioneiros do desenvolvimento desse tipo de tecnologia, Geoffrey Hinton pediu demissão do Google para poder falar abertamente sobre os problemas que vem identificando na forma como têm se desenvolvido as pesquisas da área. Hinton anunciou sua demissão em entrevista ao jornal New York Times e falou em “risco existencial” desencadeado por robôs como o ChatGPT.

Psicólogo cognitivo e cientista da computação, Hinton trabalha no campo há 50 anos. Em 1986, ele foi coautor de um trabalho científico que possibilitou a criação de redes neurais e, em 2012, foi um dos responsáveis por desenvolver o sistema matemático que é base das tecnologias de aprendizado de máquina. Em 2018, ao lado de Yoshua Bengio e Yann LeCun, recebeu o Prêmio Turing, um dos mais importantes da área, por sua contribuição. Após o feito de 2012, Hinton e seu time foram contratados pelo Google, de onde acaba de pedir demissão. Ele afirmou à BBC que alguns dos perigos dos chatbots (robôs virtuais) de inteligência artificial são “bastante assustadores”: “Neste momento, eles não são mais inteligentes do que nós, até onde eu sei. Mas acho que em breve poderão ser”, disse.

Falando em um possível “cenário de pesadelo”, Hinton demonstrou preocupação com a possibilidade de uso mal intencionado que poderia, por exemplo, possibilitar às IAs a capacidade de criar seus próprios subobjetivos, gerando um tipo de inteligência desconhecido e incontrolável: “Somos sistemas biológicos, e estes são sistemas digitais. E a grande diferença é que com os sistemas digitais, você tem muitas cópias do mesmo conjunto de pesos, o mesmo modelo do mundo. E todas essas cópias podem aprender separadamente, mas compartilham seu conhecimento instantaneamente. Portanto, é como se você tivesse 10 mil pessoas, e sempre que uma delas aprendesse algo, todas automaticamente aprenderiam. E é assim que esses chatbots são capazes de saber muito mais do que qualquer pessoa”, explicou.

Ideia de pausar estudos é “irreal”, diz Hinton

No final de março, um grupo de mil especialistas, entre eles nomes como o empresário Elon Musk, o cofundador da Apple, Steve Wozniak, e o CEO da Stability AI, Emad Mostaque, divulgou uma carta aberta pedindo uma pausa imediata no desenvolvimento de IAs como o ChatGPT e alertando para os riscos caso o desenvolvimento continue no ritmo atual.

Para Geoffrey Hinton, o pedido de pausa no desenvolvimento é “irreal” e ações concretas e coordenadas são urgentes: “Estou do lado que pensa que isso é um risco existencial, e está perto o suficiente para que devêssemos trabalhar muito agora e colocar muitos recursos para descobrir o que podemos fazer a respeito”, disse em entrevista à agência Reuters.

300 milhões de empregos estão “expostos” à automação; Judiciário está entre os setores mais afetados

A carta dos especialistas foi divulgada poucos dias após um estudo apresentado pelo Goldman Sachs apontar que 300 milhões de empregos estão “expostos” à automação. O estudo ainda destaca o Judiciário como um dos principais campos afetados. O documento do Goldman Sachs, um dos maiores grupos financeiros do mundo, adverte que “se a IA generativa [como o ChatGPT e outros] cumprir suas capacidades prometidas, o mercado de trabalho poderá enfrentar perturbação significativa”. Por um lado, milhões de postos de trabalho ficam ameaçados de extinção; por outro, a produtividade deve aumentar.

A partir de dados sobre as tarefas ocupacionais nos Estados Unidos e na Europa, e projetando esses dados para outros países – levando em conta as diferenças das economias, inclusive – o estudo aponta que “cerca de dois terços dos empregos atuais estão expostos a algum grau de automação de IA, e essa IA generativa poderia substituir até um quarto de trabalho atual”. No caso dos Estados Unidos, o relatório identifica que essa exposição é especialmente alta em profissões administrativas (46%) e jurídicas (44%). Para a Europa, as estimativas são semelhantes. Globalmente, diz o Goldman Sachs, 18% do trabalho poderia ser automatizado por inteligência artificial. No Brasil, a projeção é de 25%. Assim, destaca o relatório, “extrapolar nossas estimativas globalmente sugere que a IA generativa poderia expor o equivalente a 300 milhões de empregos em tempo integral à automação”.

Com informações da BBC, do New York Times e da agência Reuters.