Nesta quinta-feira, 3, morreu a médica e pesquisadora Margarida Maria Silveira Barreto. Ela lutava havia mais de um ano contra um câncer no estômago, quadro agravado pelo contágio por Covid-19 no início de 2022. Ao longo de sua trajetória, Margarida participou de diversas atividades promovidas pelo Sintrajufe/RS, em que trazia seus conhecimentos para ajudar a identificar o impacto das diversas formas de assédio na vida dos trabalhadores e das trabalhadoras e como combatê-las.
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Sua última participação em atividades do Sintrajufe/RS ocorreu em abril de 2021, quando foi painelista da abertura da jornada de formação A saúde dos trabalhadores e trabalhadoras ameaçada. Trabalhar, sim. Adoecer, não . Na atividade, ela falou sobre o tema Prevenindo e enfrentando o assédio moral e sexual no trabalho . Na ocasião, ela apontou que o enfrentamento da exploração e do assédio exige denúncia e uma postura intolerante com a violência e contra o silêncio institucional, o silêncio branco, hétero e todos os silêncios que encubram os fatos em busca do favorecimento por um grupo em detrimento de minorias e que é fundamental a criação de dispositivos para que quem denuncie se sinta seguro e acolhido.
Em novembro, ela participou, de modo remoto, e foi homenageada no VI Congreso Iberoamericano sobre Acoso Laboral e Institucional, em Manágua, capital da Nicarágua.
Pioneira nos estudos sobre assédio no trabalho
Margarida foi precursora, no Brasil, de estudos sobre assédio moral e sexual no trabalho. Era professora do curso de Pós-graduação em Medicina do Trabalho da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, doutora em Psicologia Social e integrante pesquisadora do Núcleo de Estudos Psicossociais de Exclusão e Inclusão Social da PUC-SP.
A pesquisadora era reconhecida em todo o país e no cenário internacional pelo pioneirismo nos estudos que identificaram e conceituaram o assédio e sexual moral no trabalho, analisando os impactos dessa violência nas atividades laborais, na vida pessoal e na saúde de trabalhadores e trabalhadoras.
Um dos estudos mais conhecidos que realizou foi uma pesquisa com 400 trabalhadores das indústrias químicas de São Paulo, em 2010, que apontou a gravidade das pressões e humilhações decorrentes do assédio moral. Ela afirmava que É importante ficarmos atentos a essa cultura que desestimula, critica ou humilha, porque o assédio moral pode levar à morte. Existe um medo muito grande da demissão. A pessoa faz tudo pra se manter no emprego .
Durante a pandemia de Covid-19, Margarida Barreto prosseguiu atualizando seus estudos, identificando uma nova forma de hostilidade contra trabalhadores e trabalhadoras. Segundo ela, a forma negligente com que governos e empresas abordaram a gravidade da situação criou um ambiente de resignação e passividade, formando, assim, um pacto de silêncio que contaminou toda a sociedade.
A diretora do Sintrajufe/RS Mara Weber, afirma que Margarida era amiga, guerreira, sábia, mestra. Amo muito essa mulher. Foi e segue sendo meu farol e uma das pessoas mais importantes na minha formação em saúde do trabalhador e da trabalhadora. Ela foi e sempre será um legado de generosidade, luta contra toda forma de opressão, escuta sensível e amorosidade. Vai em paz, minha amiga, segue brilhando e iluminando nossa jornada .
O velório e a cerimônia de despedida serão realizados nesta sexta-feira, 4, no Cemitério e Crematório Valle dos Reis, em Taboão da Serra, São Paulo.
Sintrajufe/RS com informações da Rede Brasil Atual