SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

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Para o governo, saída da Ford já tem culpados: os servidores públicos

Para o governo, saída da Ford já tem culpados: os servidores públicos

Uma onda de acusações na imprensa sobre os motivos da anunciada saída da Ford do Brasil parece encontrar agora, segundo a interpretação de alguns, os responsáveis pelo desembarque da montadora que acumulou lucros por mais de um século em território nacional: os servidores e os serviços públicos.

Nessa segunda-feira, 11, o Ministério da Economia publicou nota em que afirma lamentar “a decisão global e estratégica da Ford de encerrar a produção no Brasil. A decisão da montadora destoa da forte recuperação observada na maioria dos setores da indústria no país, muitos já registrando resultados superiores ao período pré-crise. O ministério trabalha intensamente na redução do Custo Brasil com iniciativas que já promoveram avanços importantes. Isto reforça a necessidade de rápida implementação das medidas de melhoria do ambiente de negócios e de avançar nas reformas estruturais”.

No mesmo sentido, o atual presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reputou a saída da empresa à “falta de credibilidade do governo brasileiro, de regras claras, de segurança jurídica e de um sistema tributário racional” – para concluir com a defesa da “modernização do Estado”. Ainda na Câmara, o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP) saiu em defesa da reforma administrativa para “as empresas quererem ficar no Brasil”.

O que todos têm em comum é a tentativa de jogar a responsabilidade do desemprego e da brutal crise econômica sobre os servidores e serviços públicos, justamente aqueles que impediram que a tragédia social e sanitária fosse ainda pior.

A promessa de empregos e crescimento com a aprovação das chamadas “reformas” não é nova. Ela foi amplamente usada nas reformas trabalhista e da Previdência, sendo que ambas serviram, na realidade, somente para reduzir o custo do trabalho, enfraquecer os sindicatos e rebaixar os direitos sociais.

As promessas de emprego, contudo, não se realizaram; pelo contrário, o desemprego e as vagas de baixa qualidade cresceram e as perspectivas apontam para uma grande quantidade de trabalhadores que não conseguirão se aposentar, fruto das novas regras aprovadas justamente sob a presidência de Rodrigo Maia em 2019.

Ford saiu do Brasil facilitada pela caneta da Presidência

As montadoras, não só no Brasil, são recebedoras de grandes incentivos fiscais dos governos. Todavia, esses incentivos muitas vezes são firmados sem nenhuma contrapartida ou garantia de criação de novas vagas de trabalho. Uma pista do motivo da saída repentina da montadora, além dos planos globais da empresa, está na facilidade com que consegue produzir na Argentina e trazer os veículos para o Brasil sem impostos.

Em 2019, Brasil e Argentina firmaram acordo que prevê o livre comércio de carros entre os dois países a partir de 2029, assinado justamente pelo governo Bolsonaro e seu ministro Paulo Guedes. Mas, enquanto não vigora o livre comércio pleno, vale uma regra pela qual as exportações de carros e autopeças de um país para o outro não podem ultrapassar uma vez e meia o valor que esse país importa do vizinho. Ou seja, a cada US$ 1,5 exportado, é permitido importar US$ 1.

Com o novo acordo, Brasil e Argentina poderão aumentar gradualmente o nível das exportações, até o livre comércio começar a valer. Dessa forma, o principal entrave para a saída da Ford do Brasil foi derrubado.

Governo usa caso Ford para tentar retomar a PEC da redução de salários

Conforme o jornal O Dia, desta quarta-feira, 13, “o ministro Paulo Guedes (Economia) e pessoas próximas a ele defendem a urgência na votação da PEC 186, alegando que o texto é imprescindível para uma reação do mercado”. A publicação destaca, ainda, que o recado sobre o tema foi dado na nota oficial do Ministério da Economia sobre a saída da Ford do Brasil, texto no qual o governo afirma que fica reforçada “a necessidade de rápida implementação das medidas de melhoria do ambiente de negócios e de avançar nas reformas estruturais”.

A PEC Emergencial prevê a redução de 25% dos salários de servidores e servidoras e das jornadas de trabalho. Assim, toda a população perde: enquanto os trabalhadores do setor público perdem um quarto de seus salários, todos os brasileiros e brasileiras terão os serviços públicos oferecidos pelo Estado ainda mais precarizados.

Enquanto o Sintrajufe/RS, assim como outras entidades sindicais, centrais e movimentos populares defendem mais e melhores serviços públicos, Bolsonaro e Guedes, com o apoio de Rodrigo Maia (DEM-RJ) tentam aprovar medidas que vão piorar o atendimento à população e precarizar ainda mais os direitos do funcionalismo.

Veja o vídeo que faz parte da campanha do Sintrajufe contra a reforma administrativa que denuncia os efeitos nocivos da PEC 186/2020:

Com informações do G1 e do jornal O Dia.