SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

DESTAQUE

Em primeira reunião com presidente do TRF4, Sintrajufe/RS aponta preocupação com quintos e com efeitos da Emenda Constitucional 95

O Sintrajufe/RS realizou, na tarde desta segunda-feira, 9, a primeira reunião entre a nova direção do sindicato e o presidente do TRF4, desembargador Victor Laus. Representaram a entidade os diretores Arlene Barcellos, Clarice Camargo, Fabrí­cio Loguercio, Luciana Krumenauer, Marcelo Carlini, Paulinho Oliveira e Zé Oliveira. Também esteve presente o diretor-geral do TRF4, Gaspar Paines Filho. Estiveram em pauta a situação dos quintos e os efeitos da Emenda Constitucional (EC) 95, que congela os investimentos públicos por vinte anos e tem gerado dificuldades orçamentárias aos tribunais.

Quintos

O diretor Zé Oliveira destacou que há um fato novo em relação aos quintos: a mudança de posição do relator do tema no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes. Em seu voto, ele reconheceu como “indevida a cessação imediata do pagamento dos quintos quando fundado em decisão judicial transitada em julgado”, mas permitiu, nos casos de decisão administrativa ou de decisão judicial sem trânsito em julgado, a absorção da parcela em futuros reajustes da categoria. O julgamento, porém, foi suspenso graças a destaque apresentado pelo ministro Ricardo Lewandowski e será realizado em sessão plenária, presencial. O STF tem sessão marcada, com os quintos na pauta, para o dia 26 de setembro. Já a próxima reunião do Conselho da Justiça Federal (CJF) será no dia 23 deste mês, e o pedido do sindicato é de que a decisão do Conselho de suspensão do pagamento dos quintos a partir de outubro seja sobrestada, aguardando a decisão final do Supremo. Zé Oliveira solicitou ao desembargador Laus que os presidentes dos tribunaisonde a decisão terá efeitos mais graves sobre os servidoresatuem nesse sentido.

O presidente do TRF4 disse compreender a preocupação com a possibilidade de perda da parcela e lembrou que há orçamento previsto para o pagamento dos quintos tanto em 2019 quanto em 2020. Destacou, porém, que o tribunal está vinculado à decisão do CJF, devendo cumpri-la caso seja mantida a suspensão dos pagamentos.

Ainda em relação aos quintos, a diretora Arlene Barcellos ressaltou a situação dos aposentados da Justiça Federal (ao contrário da Justiça do Trabalho, onde não há determinação de suspensão do pagamento), que também têm se mostrado bastante preocupados com a possibilidade de perda de uma parte importante do valor que recebem a cada mês.

Emenda 95

Os dirigentes levaram à reunião também a pauta da Emenda Constitucional 95, as implicações da EC para o Judiciário Federal e a necessidade de união para derrotá-la. O diretor Fabricio Loguercio defendeu que o Judiciário como um todo precisa posicionar-se contra a Emenda, explicitando as consequências que o congelamento de investimentos já está causando no Poder. Zé Oliveira reforçou a demanda, lembrando que já há um processo de precarização em diversos setores de trabalho, o que tende a piorar a partir do ano que vem, para quando estão previstos cortes de 20 a 25%.

Uma vez mais, o presidente disse compreender a preocupação, mas ver pouca margem para atuação neste momento. Ele relatou, porém, que há conversas com os ministérios do Planejamento e da Economia no sentido de ampliar limites de gastos para os tribunais que conseguirem adequar-se ao orçamento previsto. O desembargador disse estar conduzindo esforços para conter gastos no tribunal e, junto à corregedoria, “equalizar” as estruturas. Ele disse já ter assinado, desde a sua posse, no final de junho, cerca de 40 aposentadorias, em um processo estimulado pela reforma da Previdência e que, ao mesmo tempo, não prevê a reposição dos cargos vagos, aumentando a sobrecarga. Disse entender, por outro lado, que há setores com trabalho demais e outros em que há espaço de manobra, o que apontaria, conforme o presidente, para a possibilidade de realocação de servidores. Nesse sentido, o desembargador defendeu um crescente processo de capacitação dos servidores para que haja maior mobilidade no manejo das gestões.

Os diretores do Sintrajufe/RS defenderam, mais do que ajustes internos, um posicionamento institucional do TRF4 e de outros tribunais contra a Emenda Constitucional 95. Zé Oliveira citou o exemplo dos reitores universitários, que têm se manifestado pública e coletivamente pela necessidade de revogação da EC sob pena de estrangulamento financeiro e inviabilização econômica das universidades. A mesma defesa, com a apresentação à sociedade da realidade dos tribunais, poderia ser feita pelas administrações. Caso não haja esse posicionamento, destacou o dirigente, fica facilitada a continuidade da “avalanche” de ataques a diretos e ao serviço público, a começar pela estabilidade dos servidores.

Sindicato pede acesso a projetos que podem afetar servidores

Relacionando a EC 95 à realidade concreta do Judiciário, em especial do TRF4, o diretor do Sintrajufe/RS Marcelo Carlini solicitou, então, à administração, o acesso do sindicato a dois projetos em andamento: a criação do TRF6, em Minas Gerais; e a iniciativa da Corregedoria de “equalização” da força de trabalho. Em relação ao primeiro item, o dirigente destacou que a iniciativa, além de gerar custos orçamentários não previstos, pode abrir uma porta para a tentativa de criação de outros tribunais, por exemplo no Paraná. Como a lógica seguida não é a de nomeação de mais servidores, e sim sua realocação, lembrou Carlini, essa mudança poderia gerar impactos na 1ª Instância no Rio Grande do Sul. O desembargador Victor Laus disse compartilhar a mesma preocupação e comprometeu-se a enviar as informações que receber sobre o tema.

Já em relação a propostas de reestruturação, o diretor Marcelo Carlini sublinhou a importância do diálogo da administração com o sindicato para que os servidoresa parte mais diretamente afetadapossam participar das discussões a partir de sua representação. O desembargador concordou com a importância de ouvir os servidores e disse que irá enviar qualquer estudo sobre o tema ao sindicato.

No contexto da discussão sobre a EC 95, está também a situação da estrutura fí­sica do Judiciário. A possibilidade de extinção de unidades avançadas de atendimento e entrega de prédios utilizados pela Justiça Federal no interior do estado foi caracterizada pelo presidente como uma necessária “desinstalação” de espaços fí­sicos para adequação aos recursos orçamentários existentes. Os dirigentes sindicais, por sua vez, destacaram que medidas desse tipo afastam a Justiça do cidadão, indo na direção contrária da necessidade de conscientização da população sobre a importância do Judiciário e dificultando o acesso do jurisdicionado.

Ao final da reunião, foi entregue ao presidente e ao diretor-geral do TRF4 o material com os dados compilados da Pesquisa de Saúde do Sintrajufe/RS, reforçando a defesa de que o tribunal busque medidas de combate ao adoecimento e ao assédio moral. Os diretores também lembraram que a própria luta contra a EC 95 e aos seus efeitos é parte desse processo, já que a precarização e a piora nas condições de trabalho relacionam-se diretamente com o adoecimento dos trabalhadores.

Questionou-se ainda sobre a nomeação dos aprovados no recente concurso feito pelo TRF4, ao que o diretor-geral respondeu que as nomeações devem efetivar-se ainda neste ano.