SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

CÂMARA DE GÁS

Em novo caso da escalada de violência de Estado contra a população pobre, policiais rodoviários federais matam homem por asfixia em Sergipe

A Polícia Rodoviária Federal matou, nessa quarta-feira, 25, Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos, aposentado em virtude de diagnóstico de esquizofrenia. Genivaldo foi morto por asfixia dentro do porta-malas do carro da polícia, onde foi colocado gás lacrimogênio. O caso é mais um inserido em uma escalada de violência de Estado, que inclui, por exemplo, a chacina policial na Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, onde a Polícia Militar é suspeita de matar pelo menos 25 pessoas.

O assassinato de Genivaldo ocorreu no município de Umbaúba, no sul do estado de Sergipe, a cerca de 100 km de Aracaju. Um sobrinho da vítima, Wallison de Jesus, viu a ação dos agentes. Em entrevistas, ele contou que o tio pilotava uma motocicleta quando foi abordado: “Eu estava próximo e vi tudo. Informei aos agentes que o meu tio tinha transtorno mental. Eles pediram para que ele levantasse as mãos e encontraram no bolso dele cartelas de medicamentos. Meu tio ficou nervoso e perguntou o que tinha feito. Eu pedi que ele se acalmasse e que me ouvisse”, disse Wallyson. Ele conta que, mesmo diante da sua tentativa de diálogo, os policiais fizeram o uso de spray de pimenta e o colocaram dentro do porta-malas da viatura. “Eles jogaram um tipo de gás dentro da mala, foram para delegacia, mas meu tio estava desacordado. Diante disso, os policiais levaram ele para o hospital, mas já era tarde”.

Um vídeo registrou a abordagem e circula nas redes sociais nesta quinta-feira, 26. As imagens mostram que Genivaldo preso no porta-malas da viatura da PRF. Por frestas da porta traseira, é possível ver fumaça escapando e as pernas do homem balançando enquanto ele grita no interior do veículo. Em outro momento, agentes inserem mais bombas de gás lacrimogêneo e usam spray de pimenta.

“Não foi fatalidade”

No boletim de ocorrência, os agentes também afirmam que Genivaldo faleceu “possivelmente devido a um mal súbito”. De acordo com o Instituto Médico Legal (IML) de Sergipe, Genivaldo morreu por asfixia mecânica e insuficiência respiratória aguda. A Polícia Rodoviária Federal disse que empregou, sem especificar quais, “técnicas de imobilização e instrumentos de menor potencial ofensivo”. A identidade dos agentes não foi divulgada. Maria Fabiana dos Santos, viúva da vítima, criticou a posição de que o caso seria uma fatalidade: “Eu não chamo nem de fatalidade. Isso aí foi um crime mesmo, eles agiram com crueldade pra matar mesmo ele […] eu vivo com ele há 17 anos, ele tem 20 anos que tem o problema dele. Nunca agrediu ninguém, nunca fez nada de errado. Sempre fazendo as coisas pelo certo. E num momento desses pegaram ele e fizeram o que fizeram”, lamentou.

Escalada contra a população pobre

Genivaldo também foi morto um dia depois da chacina policial no Rio de Janeiro na qual a Polícia Militar é suspeita de assassinar pelo menos 25 pessoas na Vila Cruzeiro. Demonstrações da escala de violência do Estado brasileiro contra sua população, em especial contra a população negra e os mais pobres. O racismo e a criminalização da pobreza vêm passando, de um grave problema social, para uma política de Estado. A militarização do Estado sob Bolsonaro, a ode à violência e a política de guerra contra a população estimulam o crescimento de casos como esses, alimentados por um legado da Ditadura que não só permaneceu como, agora, parece revigorado.

Com pedidos de “justiça” pela população, Genivaldo foi sepultado no final da manhã desta quinta-feira em um cemitério de Umbaúba. Dezenas de pessoas participaram do sepultamento, que teve protestos e indignação. A população de Umbaúba realizou várias manifestções nesta quinta-feira como resposta ao assassinato. Os protestos incluíram queima de pneus e bloqueio da BR 101, ao largo da qual o caso ocorreu. Os manifestantes contaram com o apoio de um caminhão carregado de pneus que foram lançados e incendiados na rodovia.