SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

JUROS SABOTADORES DE EMPREGOS

Economista gaúcho desmente justificativas do Banco Central para maior taxa de juros real do planeta; fábricas suspendem produção

Mantida em 13,75% após uma sequência histórica de altas, a taxa básica de juros do Brasil (taxa Selic) vem sendo criticada reiteradamente pelos movimentos sociais, economistas e integrantes do governo Lula (PT), enquanto o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ignora as queixas e os impactos da maior taxa de juros real do planeta na vida da população.

Após a última decisão do Banco Central, Lula disse que “nenhum ser humano da Terra” explica a atual taxa de juros. A chamada autonomia do Banco Central, votada pelo Congresso em 2019, porém, mantém o poder nas mãos de Campos Neto, nomeado por Jair Bolsonaro (PL) e apoiador da política do ex-presidente.

A taxa de juros real, que desconta a inflação, é hoje, no Brasil, a maior do planeta. Conforme levantamento da Infinity Asset que descontou a inflação esperada para os próximos 12 meses, esse índice é atualmente de 6,94%. Em segundo lugar aparece o México, com 6,05%, e depois o Chile, com 4,92%. Os Estados Unidos têm taxa de juro real de 0,36%. Países como Japão, Suécia, Portugal e Espanha têm taxas negativas de 1,54%, 4,03%, 4,34% e 4,78%, respectivamente. Isso significa que a taxa de juros vigente é inferior ao índice de variação de preços

Alta de 1% na Selic gera aumento de R$ 38 bilhões na dívida; dinheiro poderia ser destinado para combate à fome

Estimativas de especialistas apontam que, para cada 1% de aumento na taxa de juros, a dívida líquida do setor público cresce R$ 38 bilhões. Esse valor equivale a quase três vezes o orçamento mensal do Bolsa Família – em janeiro, o programa custou R$ 13,38 bilhões. Equivale, também, a quase quatro vezes as despesas do Minha Casa, Minha Vida – R$ 10 bilhões. Isso tudo pensando-se em um ponto percentual de aumento; mas o aumento, de fato, foi de 11,75% no último período. Conforme o economista Márcio Pochmann, o impacto na dívida líquida do setor público foi de R$ 446,5 bilhões.

Em artigo no Valor, o economista André Lara Rezende demonstrou que, ao retirar dinheiro essencial para investimentos sociais e para a expansão da capacidade produtiva do país, o Banco Central privilegia o rentismo, favorece super ricos que detêm títulos da dívida pública. Com juros mais altos, sobem os lucros desse grupo, em uma interminável ciranda financeira que cresce às custas da miséria dos mais vulneráveis, que penam com a falta de investimentos sociais e com as dificuldades no desenvolvimento da economia, incluindo a geração de empregos.

Economista Ricardo Franzoi desmente justificativas para taxa alta

Na última sexta-feira, 24, o economista Ricardo Franzoi, vinculado ao Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), falou sobre o assunto no programa Contraponto, na RádioCom Pelotas. Franzoi disse que a recessão, no atual contexto, é “uma bomba que vai explodir”, e que o debate está sendo vencido “por aqueles que financiam a grande mídia”, ou seja, os especuladores.

O economista tratou de algumas das justificativas que vêm sendo dadas pelos defensores da alta taxa de juros aplicada no Brasil, refutando uma a uma. Ele lembrou que a inflação nos Estados Unidos e na Europa é maior do que no Brasil, mas a taxa de juros é menor. Também afastou o medo da hiperinflação e de uma possível corrida especulativa, com investidores deixando o Brasil em caso de redução da taxa Selic – Franzoi explicou que o Brasil tem uma grande reserva em dólar, construída nos dois primeiros mandatos de Lula, o que funciona como uma salvaguarda nesse sentido. Disse, ainda, que o Brasil tem um custo da máquina pública muito parecido com o de países com economias semelhantes, e que tampouco a economia está aquecida o suficiente para gerar algum risco inflacionário.

Com tudo isso, defendeu, não há justificativa plausível para uma taxa de juros tão alta: “Se a gente ver todas essas justificativas que eles apresentam, nada tem a ver com a realidade”, explicou. “A verdade é que a turma que ganha muito dinheiro por nós termos uma taxa de juros tão alta se acostumou, vive disso, se acostumou com isso. E essa turma é quem financia a grande imprensa. Em cinco anos ela dobra a sua riqueza com essa taxa de juros. Então ela pode ficar sentada no sofá, sua riqueza vai continuar aumentando”, criticou Franzoi.

Para ele, assim, é preciso que se perceba que o presidente do Banco Central, Campos Neto, é um adversário, e como tal deve ser tratado: “O presidente do Banco Central é um bolsonarista que está fazendo terrorismo contra um governo que está tentando mudar a política econômica. O que está ali não é um presidente do Banco Central com autonomia, mas um adversário, que fez propaganda para o Bolsonaro, que defende o Guedes, que quer que o Haddad faça o mesmo que o Guedes fazia, quer que corte da saúde, da educação, da segurança. Adversário não se convence, adversário se combate”, concluiu.


Montadoras suspendem produção

Nessa segunda-feira, 27, 5 mil metalúrgicos das unidades de Taubaté da Volks e da GM de São José dos Campos, iniciaram um período de férias coletivas para desacelerar a produção porque as vendas estão em queda. Essa queda, explicam especialistas, está diretamente relacionada aos juros altos, que encarecem o crédito. Outro fator é a redução do poder de compra da população. Com juros absurdos e salários apertados, as possibilidades de financiamento caem, o que tem derrubado a procura por carros novos. As próximas fábricas a dar férias coletivas serão as unidades da Hyundai, em Piracicaba; Mercedes-Benz, em São Bernardo do Campo; e Stellantis, em Goiana no Pernambuco, que reúne marcas como Fiat, Peugeot, Citröen.

Com informações do Poder 360, CUT, portal G1, RádioCom Pelotas e Valor.