SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

VALE RELEMBRAR

Casos de perseguição e censura mostram atualidade do tema de exposição de cartuns no Sintrajufe/RS

O Sintrajufe/RS tem divulgado casos de censura e perseguição a pessoas que manifestam crítica ao governo Bolsonaro. Esses fatos não são isolados nem recentes. Em setembro de 2019, o Sintrajufe/RS inaugurava a exposição “Independência em risco: resistência – Desenhos de humor”, em sua galeria a céu aberto e no Salão Multicultural Alê Junqueira, ambos na sede do sindicato. A mostra foi uma resposta à censura sofrida pelos cartunistas na Câmara de Vereadores de Porto Alegre.

A exposição “O riso é risco: Independência em risco – Desenhos de humor”, organizada pela Grafistas Gráficos Associados (Grafar), havia sido inaugurada no dia 2 de setembro, na Câmara de Vereadores, e fechada no dia seguinte, por determinação da então presidente da Casa, vereadora Mônica Leal. Ela atendeu a solicitação do vereador Valter Nagelstein (MDB), segundo o qual algumas obras possuíam “teor ofensivo” contra o presidente Jair Bolsonaro (PSL).

A censura teve grande repercussão. Mesmo depois de determinação judicial para que a mostra voltasse à Câmara, o que acabou ocorrendo, foi definida uma estratégia de fazer com que os trabalhos chegassem a um número ainda maior de pessoas. Como resultado, houve uma multiplicação de “Independência em risco” em vários lugares, não apenas no Rio Grande do Sul.

No Sintrajufe/RS, foram feitas reproduções em grande formato de 15 dos 36 trabalhos em charge e cartum. A curadoria é da jornalista e historiadora da arte Rosane Vargas, com produção do chargista e produtor gráfico Leandro Dóro, ambos funcionários do sindicato. A mostra ainda está em cartaz na galeria a céu aberto do sindicato, mas no momento, devido à pandemia, não pode ser visitada.

A inauguração se tornou também um ato político, em defesa da democracia e da liberdade artística e de expressão. Na ocasião, o diretor do Sintrajufe/RS Paulinho Oliveira destacou a importância de receber uma exposição como essa – crítica ao governo Bolsonaro e que foi censurada na Câmara de Vereadores – em um sindicato de trabalhadores do Judiciário. A fala se mantém muito atual. O dirigente lembrou o papel desempenhado pela cúpula do Poder no golpe de 2016, sublinhando o simbolismo daquele momento. “A arte é resistência”, defendeu, admitindo que o ideal seria receber uma exposição de cartuns em uma conjuntura melhor, de avanços de direitos e da democracia, mas que, dada a situação do país, o papel da cultura é essencial para defender a liberdade.

Confira o texto de apresentação da exposição

Risco, riso, resistência

A galeria a céu aberto do Sintrajufe/RS traz a público uma seleção de trabalhos da exposição “Independência em risco”, fechada pela presidência da Câmara de Vereadores de Porto Alegre menos de 24 horas depois da inauguração, no início de setembro. Os artistas conseguiram, judicialmente, retomar a mostra no espaço original. Ainda assim, como atos de repúdio à censura, outros lugares, no Brasil e no exterior, receberão reproduções dos trabalhos.

Em tempos sombrios, é preciso resistir, o que nos levou a somar ao nome original a palavra Resistência.

Rir é um ato essencialmente humano; “não há comicidade fora daquilo que é propriamente humano”, como afirma Henri Bergson. Sobre isso, muito antes e de maneira mais assertiva, Aristóteles sustentava que o bebê só se torna realmente um ser humano depois do primeiro riso.

No entanto, desde a Antiguidade, o riso causa preocupação, é visto como algo a ser mediado, controlado, reservado a determinados espaços e ocasiões. Isso fica ainda mais demarcado com o estabelecimento de uma rígida separação entre “cômico” e “sério”, “popular” e “erudito”, que remonta à conformação da sociedade dividida em classes e ao fortalecimento do Estado e traz, consigo, uma visão preconceituosa da comicidade, não poucas vezes tratada como expressão cultural menor. Charges e cartuns estão entre as expressões artísticas que conseguem atingir de maneira mais ampla diversos setores sociais. A leveza do risco e a implacabilidade do riso unem-se e formam uma espécie de espelho no qual os que ocupam lugares de poder (político, econômico, jurídico, etc.) veem suas ações e intenções amplificadas e expostas.

Nesta mostra, os artistas unem-se para defender a democracia, denunciar a entrega do patrimônio público e da soberania nacional. Com coragem, não poupam quem quer que seja. Por isso, houve a tentativa de impedi-los de mostrar seu trabalho.

Definitivamente, o poder teme o humor.

Rosane Vargas