SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

DESTAQUE

As sombras e as luzes de 2020

Chegamos a novembro de 2020, um ano trágico e nefasto em mais aspectos do que possamos enumerar em uma coluna. Todas as vidas importam, e já perdemos mais de  165 mil, economia em colapso, a velha polí­tica e a corrupção sistêmica instaladas depois do engodo de algumas expectativas “ alienadas ou suspeitas “ de que o êxito do assombroso projeto conservador e perverso eleito em 2018, traria alguma mudança.

Neste ano, o serviço público seguiu sendo ví­tima de uma campanha de demonização como justificativa falaciosa para a dilapidação dos pilares que parcamente oferecem algum bem-estar à sociedade. As polí­ticas públicas redistributivas, de promoção de direitos humanos, a proteção ao meio ambiente, o acesso a bens básicos e os princí­pios democráticos como um todo são destruí­dos como método. Atacam-se o SUS, a Fiocruz, o Ibama, o Butantã, as universidades federais… Os super-ricos não têm do que reclamar.

E quando pairam a crise sanitária, o anti-intelectualismo e o poder corroí­do por clãs ineptos de relações espúrias, somos, enquanto sociedade, ainda oferecidos em leilão com a ameaça da reforma administrativa. Precarizar os serviços públicos no Brasil atinge, majoritariamente, os alvos móveis de sempre: pretos pobres de periferia. Assim como sabemos quem são, onde moram e como vivem a maioria das ví­timas da covid-19.

E, num ano assim sombrio, a América do Norte convulsiona, afinal, a violência racial agora é transmitida ao vivo. E essa onda sí­smica sacode o planeta; caem estátuas, projetos conservadores e anti-humanitários sofrem mais e mais derrotas nas urnas e um homem negro, ativista, torna-se o maior campeão de todos os tempos no esporte mais capitalizado e elitizado do mundo. A onda negra é singrada pelas mulheres! Engajamento, letramento, ocupação, solidariedade e sororidade… o canto das pretas velhas ecoando em todo lugar.

Meses se seguem e quase se empilham, diante das tragédias individuais e coletivas e chega novembro e, a despeito do terrí­vel histórico deste ano, o mês de Zumbi dos Palmares chega envolto em luzes magní­ficas. Em novembro se escolhem os representantes legislativos da cidade “ do chão onde pisamos, literalmente “ e, 2020, a despeito de tudo, elegeu uma banca negra em Porto Alegre.

Pessoas ligadas às suas comunidades, pessoas diversas, experientes, cultas e gratas pelas polí­ticas de cotas nas universidades, ascendem ao cenário polí­tico da cidade, não sem ataques de representantes decadentes das oligarquias polí­ticas que são responsáveis “ porque ocuparam espaços de poder- pelo estado de coisas de que padecem a cidade e paí­s.

Em novembro de 2020 celebraremos Zumbi! Mas, além disso, sabemos quem são Luiz Gama, Lélia Gonzáles, Oliveira Silveira, Conceição Evaristo. O cetro de patrono da Feira do Livro “ sí­mbolo da primavera gaúcha “ também está em mãos negras de escrita talentosa! Evoé!

O Dia da Consciência Negra foi concebido em Porto Alegre em plenos anos de chumbo. 2020 é nosso ano de prata, e o futuro nos devolverá o brilho do ouro tirado da terra por nossos ancestrais.

Mario Augusto Silva Marques, diretor da Secretaria de Polí­ticas Sociais do Sintrajufe, oficial de justiça da Justiça Federal POA, pós-graduado em Direito Processual Civil pela PUCRS. Integrante  do GT Direitos Humanos,  Equidade de Raça, Gênero e Diversidade  da SJRS-JF

Magali Dantas, cientista social, mestra em Desenvolvimento e Governança, servidora da JF/POA e membra do GT Direitos Humanos, Equidade de Raça, Gênero e Diversidade da SJRS-JF