SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

MÁ GESTÃO

4.500 profissionais da saúde pública e privada morreram no auge da pandemia

No auge da pandemia de Covid-19, no Brasil, entre março de 2020 a dezembro de 2021, morreram 4.500 profissionais da saúde pública e privada. Desse, a cada dez, oito eram mulheres (80%). As mortes ocorreram, especialmente, nos meses em que faltaram equipamentos de proteção individual (EPIs) para esses trabalhadores e trabalhadoras.

As mortes entre os profissionais brasileiros de saúde se avolumaram mais rapidamente do que o observado na população geral, e o impacto da doença foi maior nas ocupações com menores salários e mais próximas à linha de frente: auxiliares e técnicos de enfermagem morreram proporcionalmente mais do que enfermeiros e enfermeiras, e estes, proporcionalmente, mais do que médicos e médicas.

O levantamento, divulgado nessa quinta-feira, 13, foi feito especialmente para a Internacional de Serviços Públicos (PSI – Public Services International, da sigla em inglês) pelo estúdio de inteligência de dados Lagom Data, que cruzou dados de fontes oficiais brasileiras.

“Apesar de os dados serem incompletos, é possível ver por meio deles o quanto os profissionais da saúde foram atingidos no começo da pandemia por estarem mais expostos”, comenta o jornalista de dados Marcelo Soares, responsável pela análise. “Com a prioridade dada a eles na vacinação, os dados também mostram como vacinar mais cedo derrubou as mortes antes do resto da população.”

Muitas mortes podiam ter sido evitadas

“Muitas mortes de colegas da Enfermagem e da população em geral poderiam ter sido evitadas, se tivesse ocorrido agilidade e transparência na compra das vacinas”, afirma a presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Rio Grande do Sul (Sergs), Cláudia Franco.

Ela lembra que, no início da pandemia, os sindicatos tiveram de lutar por EPIs e afastamento de grupos de risco, tendo de haver mediação na Justiça para que os hospitais e os serviços de saúde protegessem minimamente as suas equipes de trabalho.

Técnicos, técnicas e auxiliares: os que mais morreram

Quanto mais próximos aos pacientes esses profissionais trabalhavam, mais morriam: 70% dos mortos trabalhavam como técnicos, técnicas e auxiliares de enfermagem; em seguida vieram os enfermeiros e as enfermeiras (25%) e, por último, os médicos e as médicas (5%).

Para se ter uma ideia, foram 1.184 enfermeiros mortos, o que pode ter impactado diretamente o atendimento de 21.300 pacientes. Pelas regras do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), cada enfermeiro atende até 18 pacientes e cada técnico/auxiliar de enfermagem, nove doentes. Em Manaus, capital do Amazonas, cada enfermeiro atendeu 40 pacientes com o auxílio de dois técnicos/auxiliares.

Tragédia foi maior entre os sem contrato formal de trabalho

Dois terços dos profissionais de saúde que morreram durante a pandemia provavelmente não tinham contrato formal de trabalho, segundo cruzamento entre os dados do Ministério da Saúde e informações sobre desligamentos por morte no Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

Tanto nos dados oficiais de emprego formal quanto nos registros dos conselhos profissionais, médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem representavam 61%, 20% e 18% dos profissionais empregados – o que ilustra as desigualdades de exposição ao risco dentro das especialidades da área da saúde.

Cláudia lembra que a reforma trabalhista, aprovada no governo de Michel Temer (MDB), em 2017, tirou muitos direitos e favoreceu a terceirização e a subcontratação de profissionais. “Na pandemia, essa fragilidade ficou ainda mais exposta e muitos profissionais adoeceram e chegaram a falecer, sem direitos trabalhistas garantidos”, comenta a presidente do Sergs.

Categoria foi a que mais morreu proporcionalmente

Ainda segundo a pesquisa, nos primeiros meses da pandemia, a curva do excesso de desligamentos por morte entre os profissionais da saúde era mais elevada do que a da totalidade das ocupações no Brasil. Ou seja, os profissionais da saúde morriam proporcionalmente mais.

Em maio de 2020, as mortes excedentes chegaram ao dobro da média anterior. Da mesma forma, quando finalmente o Brasil avançou na vacinação prioritária dos profissionais de saúde, a mortalidade entre eles caiu mais rápido do que na população em geral, que demorou mais meses para ser vacinada.

Entidade critica gestão Bolsonaro na pandemia

Segundo a análise da ISP, muitas dessas mortes poderiam ter sido evitadas se houvesse zelo ou empenho governamental. Em março de 2021, com uma confluência de fatores que iam da pressão pela volta precoce das atividades presenciais à lentidão do governo em avançar com a vacinação, as mortes de Covid-19 explodiram no Brasil inteiro.

Os profissionais da saúde sentiram esse impacto também, embora por menos tempo: o avanço da vacinação prioritária abreviou no setor o pior pico prolongado de mortes que já se viu no Brasil durante o período pandêmico. “Faltaram equipamentos de proteção, oxigênio, vacinas, medicamentos, sobraram mensagens falsas e desaforadas do governo sobre a Covid-19, chocando o mundo. E até hoje os profissionais da linha de frente seguem desvalorizados no Brasil”, afirma Rosa Pavanelli, secretária-geral da ISP, que tem sua sede mundial em Genebra, e integra a Comissão de Alto Nível do Secretário-Geral da ONU sobre Emprego em Saúde e Crescimento Econômico.

A pesquisa

A pesquisa faz parte de uma campanha documental da ISP, que atua com o sistema das Nações Unidas em parcerias com a sociedade civil. O ISP denunciou a situação de quatro países nos momentos mais intensos da pandemia de Covid-19. Além do Zimbábue, Paquistão e Tunísia, o Brasil foi escolhido pela abordagem negacionista do governo Bolsonaro.

A análise no Brasil foi feita a partir do cruzamento de microdados do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados e Registros de profissionais do Conselho Federal de Medicina (CFM) e do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen).

Fonte: CUT/RS