SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

SEM TETO

Salários de juí­zes em tribunal de justiça chegam a quatro vezes o teto constitucional; caso não é exceção

Mesmo frente a um teto constitucional de R$ 41,6 mil, juí­zes do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) estão recebendo salários de até R$ 177,4 mil. Trata-se do tribunal de justiça com a maior média salarial de juí­zes do paí­s, mas não é uma exceção: penduricalhos elevam os ganhos de juí­zes e juí­zas em diversos tribunais.

O caso de Goiás foi detalhado nesta segunda-feira, 3, em reportagem publicada no jornal O Estado de S. Paulo. A situação, que vinha acontecendo por meio de decisões do próprio TJGO, foi referendada no iní­cio deste ano pelo governador do estado, Ronaldo Caiado (União Brasil). Em março, ele sancionou lei que transforma gratificações de cargos e funções comissionadas em verbas indenizatórias, permitindo que os valores sejam pagos acima do teto e fiquem livres do recolhimento de Imposto de Renda.

O salário desses juí­zes, que não alcança inicialmente o teto constitucional, limitado pelo salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), vem sendo sistematicamente engordado por variados penduricalhos. São indenizações, vantagens e gratificações que têm recheado os bolsos de alguns. O Estadão cita o caso do juiz Wilson da Silva Dias, que tem salário de R$ 36 mil, mas, em maio deste ano, recebeu R$ 47 mil em indenizações, R$ 42,8 mil em vantagens e R$ 78 mil em gratificações, somando, após os descontos de Previdência e Imposto de Renda, R$ 177.460,73 naquele mês. Com o mesmo tipo de cálculo, o desembargador Marcus da Costa Ferreira, também do TJGO, recebeu, no mesmo mês, R$ 170.671,68. É citado, ainda, o caso do presidente do mesmo tribunal, Carlos Alberto França, que, em maio, recebeu R$ 149.899,05.

O TJGO tem a maior média remuneratória para juí­zes entre todos os 84 tribunais que já apresentaram dados ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) neste ano. Os 450 magistrados do órgão recebem, em média, remuneração lí­quida de R$ 78,5 mil, quase o dobro do teto. Em maio, conforme O Estado de S. Paulo, quase 200 juí­zes e juí­zas do TJ receberam mais de R$ 100 mil cada.

Não é exceção, mas juiz de Rondônia afirma que a gente se acostuma a viver com pouco

O caso de Goiás chama a atenção, mas não é exceção. O Tribunal de Justiça de Minas Gerais, por exemplo, tem a segunda maior média remuneratória para os juí­zes, no valor de R$ 71 mil lí­quidos. No Tribunal de Justiça de Santa Catarina, que fecha o pódio de mérito duvidoso, os juí­zes e juí­zas recebem, em média, R$ 66 mil mensais após os descontos.

Na última semana, o Sintrajufe/RS publicou matéria (https://sintrajufe.org.br/com-auxilio-moradia-e-adicionais-por-tempo-de-servico-juizes-recebem-ate-r-15-milhao-por-mes-a-gente-se-acostuma-a-viver-com-pouco-diz-desembargador/) sobre a situação remuneratórias de juí­zes e desembargadores em outros tribunais, incluindo o TRF4. A matéria aponta que nove juí­zes receberam, entre janeiro e dezembro de 2022, pagamentos de mais de R$ 1 milhão em um mês. Nesses casos, a extrapolação do teto acontece por conta de dois benefí­cios: o auxí­lio-moradia e o adicional por tempo de serviço. Ambos são alvo de contestação.

Ao Uol, o desembargador aposentado Gabriel Carvalho, do TJ de Rondônia, dono do terceiro maior contracheque desde 2020 (R$1,18 milhão, em valores brutos), definiu como justo o pagamento do auxí­lio-moradia retroativo: Ajuda bem, é claro. Não vinha dependendo disso porque a gente se acostuma a viver com o pouco. Já gastei [risos]. Foi bem-vindo. Eu quitei uma coisinha. Comprei um imovelzinho aqui, tá certo? Reformei um apartamentinho. Eu não jogo dinheiro fora, não , disse.

Democratizar o Judiciário

No último final de semana, o Sintrajufe/RS realizou seu 10º Congresso Estadual. Entre os temas discutidos ao longo dos painéis, um dos debates tratou justamente da necessidade de democratização do Poder Judiciário. Participaram, como painelistas, o desembargador do TRF4 e diretor da Escola de Magistratura do mesmo tribunal, Rogério Favreto, e a professora do Departamento de Direito Público e Filosofia do Direito e dos Programas de Pós-Graduação em Direito e em Ciência Polí­tica da Ufrgs, Juliane Sant™Ana Bento.

Ambos criticaram a situação atual do Judiciário brasileiro, destacando o ativismo repressivo que tem colaborado para o retrocesso de direitos. Por outro lado, ressaltaram a importância da construção de estruturas internas democráticas capazes de resistir às pressões polí­ticas. Tudo para, ao mesmo tempo, valorizar servidores e servidoras, e qualificar o atendimento e a relação com a sociedade como um todo. Nesse escopo de democratização do Poder, entra, também, a necessidade de controles internos, que andam junto com a consolidação de estruturas internas que não favoreçam as cúpulas em detrimento dos interesses coletivos.

Com informações do jornal O Estado de S. Paulo