SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

ANTIRRACISMO

Quase metade das vagas das cotas raciais fica desocupada no Ministério Público; Encontro de Negros e Negras do Sintrajufe/RS de 2023 aprovou defesa do aperfeiçoamento de polí­ticas afirmativas

Reportagem publicada nessa quarta-feira, 14, pelo jornal Folha de S. Paulo retrata as dificuldades para que as polí­ticas de cotas raciais ganhem em efetividade em algumas instituições no Brasil. Levantamento mostra que quase metade das vagas reservadas a negros e negras em concursos recentes do Ministério Público não foram preenchidas.

Conforme a reportagem, 22 unidades da Federação tiveram concursos para membros dos ministérios públicos estaduais desde a resolução do Conselho Nacional do Ministério Público que instituiu a reserva de 20% das vagas para negros e negras, em 2017. Mas 44% das vagas abertas nessa modalidade não foram preenchidas. Na seleção mais recente, conforme a Folha, ao menos parte dessas vagas não foi preenchida em oito estados, incluindo o Rio Grande do Sul. E, no Ministério Público Federal, no concurso realizado em 2023, nenhum candidato negro foi aprovado dentro da cota.

No Judiciário, o problema também acontece. A mesma matéria da Folha de S. Paulo aponta que, desde a instituição de cotas em concursos para juiz, em 2015, só 2 em cada 5 vagas reservadas a negros foram preenchidas nos Tribunais de Justiça dos estados ”e nenhuma nos Tribunais Regionais Federais . Isso agrava um problema recorrente: Segundo as estimativas mais recentes do CNJ e do CNMP, só 15% dos magistrados e 12% dos membros do Ministério Público do paí­s se declaram pretos e pardos , diz a reportagem.

Reduzida presença de negros e negras nos serviços públicos

Levantamento feito pela organização não governamental (ONG) República.org, dedicada a melhorar a gestão de pessoas no serviço público, mostra que os negros são apenas 35,09% dos servidores públicos ativos do executivo federal, mesmo representando 55,7% da população. A baixa representatividade dos negros se agrava à medida que aumentam a importância e a remuneração do posto na administração pública. Ao se analisar o cargo mais elevado na hierarquia do serviço público no executivo federal, o de direção e assessoramento superior de ní­vel 6 (DAS-6), apenas 35 dos 240 postos eram ocupados por pretos e pardos, ou seja, 14,58%.

A disparidade entre negros e brancos poderia ser pior não fosse a Lei de Cotas (Lei 12.990, de 9 de junho de 2014), que reserva 20% das vagas em concursos públicos da União para pretos e pardos. No ano 2000, para cada 100 novos servidores do executivo federal, 17 eram negros. Em 2020, essa relação saltou para 43 em 100 novos aprovados.

1º Encontro de Negros e Negras do Sintrajufe/RS tratou do tema e defendeu aperfeiçoamento das polí­ticas afirmativas

Em outubro de 2023, o Sintrajufe/RS realizou seu 1º Encontro de Negros e Negras, quando foram debatidos diversos temas relativos às lutas antirracistas. Entre esses temas, esteve a questão das cotas. Entre as proposições gerais aprovadas pelos e pelas participantes, estão os seguintes itens:

  • Defender polí­ticas públicas afirmativas que enfrente a desigualdade social vinculando, sempre e de maneira indissolúvel, as questões de raça e gênero às questões de classe: medidas devem ser adotadas para que cotas raciais e de gênero facilitem o acesso ao serviço público não de quaisquer pessoas, mas dos filhos da classe trabalhadora.
  • Cobrar do Grupo de Trabalho Interministerial para elaboração do Programa Nacional de Ações Afirmativas do Governo Federal o efetivo aperfeiçoamento e o aumento no percentual de cotas previsto em Lei para o serviço público federal, com objetivo de aumentar a representatividade de negros e negras nos órgãos públicos, além de ações efetivas que contribuam com a cultura antirracista.
  • Cobrar a aprovação do Projeto de Lei 1.958, de 2021, de autoria do senador Paulo Paim (PT/RS), que tramita no Senado e mantém a reserva de 20% das vagas em concursos públicos da União para pretos e pardos por mais dez anos. Além disso, é imprescindí­vel que essa polí­tica seja mantida enquanto houver a desproporção étnica no serviço público.
  • Cobrar das administrações do PJU e MPU a inclusão de cota de gênero e raça para o preenchimento dos cargos de direção;

Com informações da Folha de S. Paulo e da Agência Brasil
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