No Mês de Luta das Mulheres, diversos órgãos estão realizando atividades, debates, em sua maioria, com foco na desigualdade de gênero e formas de combatê-la. O Superior Tribunal de Justiça (CTJ) foi na contramão e ofereceu três oficinas que reforçam estereótipos sobre o papel das mulheres; entre os assuntos estão planejamento de cardápio e sono da criança .
São três Oficinas Práticas para Servidoras ao longo do mês de março, sob a responsabilidade do Centro de Formação e Gestão Judiciária e do EquilibraPrograma de Participação Institucional Feminina no STJ. Os temas são Rotina familiar, produtividade e gestão do tempo , Planejamento de cardápios e Homeschooling, sono da criança e tempo de qualidade .
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Vários estudos mostram que as mulheres estão ainda mais sobrecarregadas na pandemia, devido à estrutura social que as coloca como responsáveis pela casa, pelo cuidado com a família. Na única oficina que trata do assunto, o foco vai para produtividade , fortalecendo uma visão de priorização de metas que tem levado a categoria ao adoecimento.
As duas outras oficinas, Planejamento de cardápios e Homeschooling, sono da criança e tempo de qualidade , poderiam ser ilustradas com aquelas imagens da dona de casa perfeita tão em voga nos anos 50. Se a sobrecarga e a dupla jornada para as mulheres são uma realidade, debater essas questões parece bem mais razoável do que reforçar que esse é o papel que cabe às mulheres e que elas só precisam de receitas de bolo e planejamento na rotina com filhos para lidar com isso. Alguém consegue imaginar essas oficinas sendo oferecidas aos colegas homens?
O STJ recebeu diversas críticas sobre o conteúdo ofertado, com repercussão negativa também na imprensa. Diante disso, o tribunal lançou nota afirmando que a oficina era aberta a homens e mulheres e que mudou o material de divulgação, incentivando a ampliação da participação dos homens nas oficinas.
Assédio moral e sexual, acesso a treinamentos e cargos de chefia, racismo, homofobia, sobrecarga de trabalho e dupla jornada na pandemia: assuntos relevantes não faltam. O STJ perdeu uma oportunidade de discuti-los.