SINDICATO DOS TRABALHADORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - FUNDADO EM 28 DE NOVEMBRO DE 1998 - FILIADO À FENAJUFE E CUT

R$ 106,7 BILHÕES

Lucros bilionários dos bancos em 2022, sustentados pela taxa de juros, expõem abismo socioeconômico do paí­s

Privilegiados pelo sistema econômico brasileiro, mesmo em um cenário de crescimento restrito, os cinco maiores bancos do paí­s obtiveram um lucro lí­quido em 2022, de cerca de R$ 106,7 bilhões. É o que mostra o estudo Desempenho dos bancos 2022 , elaborado pelo Departamento Intersindical de Estatí­sticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), publicado em maio.

O estudo, conduzido pela economista Vivian Machado, da subseção do Dieese na Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro (Contraf-CUT), aponta que o montante acumulado pelos bancos se deu em cenário de manutenção da taxa básica de juros, a Selic, definida pelo Banco Central, em 13,75%. A taxa de juros em patamar elevadoo Brasil tem a maior taxa real do mundodificulta o crescimento da economia, a geração de emprego o provoca um aumento do endividamento das famí­lias brasileiras. Com juros mais altos, contas a pagar ficam mais altas, o que impacta diretamente no orçamento do brasileiro. De um lado os bancos acumulam altos lucros, um aumento de 9,25% em relação a 2021, e de outro um crescimento do endividamento das famí­lias, por conta dos altos juros , afirma a economista.

De acordo com os dados do Banco Central, no ano de 2022 foi registrado um crescimento de 20,7% na utilização do crédito Pessoal Fí­sica. Grande parte desse resultado, 85%, vem da utilização do cartão de crédito, cujas taxas de juros do rotativo estão acima dos 410% ao ano. No ano passado observamos que as pessoas usaram muito o cartão de crédito para pagar as despesas domésticas e comprar comida para casa. E o endividamento das famí­lias acontece também por que elas acabam recorrendo ao parcelamento da fatura ou mesmo ao rotativo do cartão , explica Vivian Machado.

Números do endividamento

A parcela de famí­lias brasileiras com dí­vidas (em atraso ou não) chegou a 78,3% em abril deste ano. A taxa é a mesma observada no mês anterior, mas está acima dos 77,7% de abril de 2022. O aumento da inadimplência atingiu também a classe média, estrato social em que as contas ou dí­vidas em atraso aumentaram. As famí­lias inadimplentes de todas as classes socais chegam ao í­ndice de 29,1% , abaixo dos 29,4% de março, mas acima dos 28,6% de abril de 2022. Os dados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada no iní­cio de maio pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

A pesquisa mostra ainda que:

  • Aqueles que não terão condição de pagar suas dí­vidas somaram 11,6%, percentual superior aos 11,5% de março e aos 10,9% de abril do ano anterior.
  • A cada 100 consumidores inadimplentes em abril, 45 estavam com atrasos por mais de três meses.
  • Do total de consumidores endividados, 86,8% têm dí­vidas no cartão de crédito e 9% com crédito pessoal.

Esse quadro de endividamento tende a aumentar nos próximos meses. A previsão é que o percentual de 78,3% se mantenha nos próximos dois meses e suba para 78,4% em julho, segundo a CNC.

A roda da economia

O lucro dos bancos, afirma a economista, é resultado direto da manutenção da taxa de juros (Selic), ainda que os bancos tenham elevado seu provisionamento por causa da alta inadimplência e pelo escândalo da Americanas, que entrou na Justiça com pedido de recuperação judicial com uma dí­vida de cerca de R$ 40 bilhões. Os bancos são os principais credores da Americanas, e por isso, o risco de calote foi elevado. É um dinheiro que sai do bolso dos clientes e vai parar no sistema financeiro. Com juros altos, os bancos elevam todas as taxas. E sai do governo também, já que os bancos têm 30% dos tí­tulos da dí­vida pública , diz Vivian Machado.

Ela explica que os bancos ganham em diversas frentes, como as operações de crédito, tí­tulos de valores mobiliários e com os recursos que têm parados no Banco Central e rendendo juros. Com a Selic alta, todas as operações ficam mais caras aos devedores. Portanto, quem mais ganha são os bancos. Vivian Machado aponta que, enquanto isso acontece, a economia perece: É um dinheiro que poderia estar circulando na economia, no bolso do trabalhador, comprando mais, com indústria produzindo mais, gerando mais empregos, mais arrecadação, mais investimentos públicos .

Empregos

Enquanto bancos aumentam seus lucros, o emprego no sistema financeiro sofre uma transformação prejudicial aos trabalhadores. Em 2022, segundo os dados, 617 agências bancárias foram fechadas. O que temos visto é uma substituição de agência por unidades de negócios e agências digitais, que têm menos pessoas trabalhando no atendimento. Além da tecnologia que permite que as operações bancárias sejam virtuais, como os aplicativos de celular , diz Vivian.

Por outro lado, ainda que o saldo de contratações tenha sido positivo no ano passado, são empregos em atividades não configuradas como ˜categoria bancária™. Os bancos apostam há tempos na contração das fintechs [empresas especializadas em tecnologia voltada ao sistema financeiro] do que nos bancários em si , diz Vivian.

A categoria bancária tem direitos garantidos e protegidos pela Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) negociada entre o Comando Nacional dos Bancários e a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban). Vivian Machado ressalta que, por este aspecto, a atuação dos bancos caracteriza um esvaziamento da categoria com o propósito de reduzir encargos com direitos. E é prejudicial também à população que precisa de atendimento, como os aposentados e idosos que têm dificuldade em lidar com a tecnologia. São pessoas que dependem do atendimento bancário humano , pontua a economista.

Veja AQUI o estudo completo.

Editado por Sintrajufe/RS; fonte: CUT